Uma “embaixada da mobilidade elétrica” de toda a Europa entregou aos responsáveis da Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas COP26, em Glasgow uma declaração em que exige a antecipação das metas estipuladas pela União Europeia, no que diz respeito ao fim da venda de modelos com motores de combustão interna e à comercialização apenas de viaturas eletrificadas.

Esta “embaixada itinerante” rumo à COP26 foi composta por representantes de associações de utilizadores de veículos elétricos dos mais variados países europeus – Portugal, inclusive – e exige que, a partir de 2030 só possam ser vendidas, na Europa, viaturas novas que sejam 100% elétricas ou híbridas Plug-in. E que, a partir de 2035, a venda de veículos novos seja restringida apenas a automóveis puramente elétricos (BEV).

Dois Tesla portugueses até à COP26 em Glasgow

Henrique Sánchez, presidente do Conselho Diretivo da Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos (UVE), e Pedro Faria, presidente da Mesa da Assembleia Geral da UVE, foram os condutores portugueses que saíram de Lisboa rumo a Glasgow, em defesa de uma mobilidade zero emissões.

Nos dois Tesla seguiram os dois dirigentes da UVE e respetivas mulheres, num total de quatro associados da UVE. Foram em nome de Portugal, mas também em representação da ABRAVEi – Associação Brasileira dos Proprietários de Veículos Elétricos Inovadores.

Os dois Tesla Model 3 portugueses exibiam de forma evidente a mensagem que os movia, já que a decoração dos EV tinha as frases “Goodbye Oil” (“Adeus petróleo”) e “Cool People Drive Electric” (algo como “pessoas fixes guiam elétrico”).

Em conversa com o Welectric, Henrique Sánchez explicou que a viagem de 6832 km, entre ida e volta, permitiu mostrar a todas as pessoas que é possível viajar pela Europa, num veículo elétrico, sem crises de ansiedade.

“Demonstrámos por atos concretos e não por meras palavras de que é possível circular pela Europa em viatura elétrica”, diz Henrique Sánchez.

“Demonstrámos por atos concretos e não por meras palavras de que é possível circular pela Europa em viatura elétrica, pois existe já uma rede de carregamentos que, embora tenha ainda de aumentar e melhorar, permite esse tipo de itinerário”, refere o presidente da UVE que enfatiza que este périplo até Glasgow envolveu modelos automóveis de diferentes marcas: “Além de exemplares Tesla, participaram na viagem outros veículos, caso de um VW ID.3, vindo da Eslovénia, de um Kia E-Niro ou mesmo de um MG elétrico. Houve ainda o caso de um carro elétrico de holandeses que fez a viagem, levando a família toda”.

Simplicidade do pagamento

Apesar de seguir num Tesla e de ter aproveitado a tecnologia de carregamento dos Superchargers da marca americana (“que progressivamente estão a ser abertos a utilizadores de outras marcas”, sublinha o responsável da UVE), Henrique Sánchez refere que fez questão também de experimentar ao longo da viagem outras soluções de carregamento para perceber como tudo funciona. A avaliação é positiva: “Pela Europa há estações com multi-carregadores que funcionam bem. O próprio pagamento do carregamento revelou-se simples. Pude usar um cartão de débito num dos carregadores. Independentemente da complexidade do sistema de cobrança em que o backoffice está montado, para o utilizador a simplicidade do pagamento é algo que eu registei, designadamente nos pagamentos ad hoc, ou seja, sem ser necessário efetuar um contrato com um CEME”.

“É evidente que faltam ainda carregadores e faltam também carregadores com mais potência, sendo ainda fundamental que os carregadores sejam ainda mais interoperáveis para que se tornem mais cómodos de usar e mais fáceis de pagar. Mas o que já existe, já permite a circulação entre países”, salienta o responsável da UVE.

O exemplo da Noruega

Dos encontros com outras entidades proporcionado pela viagem até Glasgow, Henrique Sánchez salienta o exemplo vindo da Noruega, cuja associação de utilizadores de veículos elétricos conta já com 100 mil associados e 40 funcionários a tempo inteiro, quatro dos quais alocados a um call center, que funciona 24 horas por dia, sete dias por semana, para apoio aos condutores de EV. “A Noruega é uma nação que está muito avançada em diferentes domínios e também na mobilidade elétrica, com 95% das vendas de veículos a ser composta já por BEV e PHEV”. O presidente da UVE refere que o último veículo com motor de combustão interna será vendido na Noruega em abril de 2022.

Até chegarem a Glasgow, os dois Tesla portugueses, que saíram de Lisboa a 25 de outubro, foram fazendo um trabalho de divulgação da mobilidade elétrica, tendo efetuado paragens em diferentes locais, onde trocaram experiência com utilizadores de EV de outros países e com várias entidades, caso da FAUVE (Fédération Française Associations d’Utilisateurs de Véhicules Électriques).

Em Paris, os Tesla da UVE juntaram-se a uma dezena de outros automóveis de propulsão elétrica franceses que iam para Glasgow e em Bruxelas a caravana engrossou com ativistas e delegações da Global EV Alliance vindos também da Suécia, Holanda, Itália, Bélgica, Eslovénia e Alemanha.

Em Bruxelas, a embaixada da mobilidade elétrica foi recebida pelo secretário-geral da AVERE (a associação europeia para a eletromobilidade) e pela Federação Europeia dos Transportes e Ambiente (T&E).

Foi em Bruxelas que as associações membro da Global EV Alliance assinaram a declaração que foi entregue na COP26 e de uma outra, igual, para ser entregue no Parlamento Europeu.

A partir da capital europeia, o itinerário foi comum à cerca de dezena e meia de viaturas que seguiram na #evroadtocop com destino a Glasgow, na Escócia.

Estação de serviço elétrica exemplar

Um dos pontos altos da viagem que Henrique Sánchez destaca foi a visita à estação de carregamento Braintree Electric Forecour, da empresa GridServer, e situada na cidade do distrito de Braintree, no Condado de Essex, em Inglaterra.

Trata-se de uma área de carregamento “única no mundo”, evidencia o presidente da UVE, dado que não se limita a dispor de postos de carregamento, “desde postos AC de 22 kW até postos ultrarrápidos de 150 e 350 kW e Superchargers da Tesla. Neste local existe também uma estação fotovoltaica para alimentar os carregadores. Existe um sistema de seis contentores de armazenamento de energia, num total de 6 MWh de armazenamento, uma área comercial e espaços de reuniões”. Esta estação de mobilidade elétrica tem ainda uma Wellbeing Zone, com bicicletas estáticas que, ao serem pedaladas, geram igualmente eletricidade, uma zona infantil.

Foto: UVE

Para Henrique Sánchez, esta zona “incrível” é um excelente exemplo que deveria servir de inspiração para outros locais.

Esta ação de divulgação da mobilidade elétrica e de alerta aos impactos devastadores que as alterações climáticas representam para o futuro da Humanidade teve ainda uma passagem pelo futuro local da fábrica de baterias Britishvolt, em Cambois, Blyth, perto de Newcastle, no Reino Unido, para onde está prevista a criação de cerca de oito mil postos de trabalho quando a unidade industrial estiver plenamente operacional, em 2023.

O local – refere Henrique Sánchez – tem a particularidade de ter diante de si uma desativada central térmica de carvão. Outro ponto de interesse desta fábrica que ali vai nascer é que a própria empresa Glencore, responsável pela central térmica, decidiu investir nesta gigafábrica: “É um contraste e um sinal de que a mobilidade elétrica está em expansão”.

A importância da pressão política e mediática

Já em Glasgow, esta “embaixada da mobilidade elétrica” esteve presente na chamada Green Zone, distribuindo flyers pelos participantes, procurando sensibilizar o maior número possível de pessoas para a necessidade de se fomentar a mobilidade zero emissões: “A pressão política e a pressão mediática pela positiva conseguida por uma ação destas junto da opinião pública e de diferentes organismos em Bruxelas e em Glasgow, é fundamental para haver uma mudança”, entende Henrique Sánchez.

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