Neste dia 14 de outubro, Dia Internacional dos Resíduos Elétricos, o “Weee-Follow”, um projeto promovido pelo Electrão entre 2020 e 2021, para identificar os desvios de equipamentos elétricos e possíveis rotas de mercado paralelo, concluiu que três em cada quatro equipamentos elétricos usados, colocados pelos cidadãos na via pública, para recolha posterior por parte dos serviços municipais, são desviados para o mercado paralelo e não chegam às unidades de tratamento onde seriam corretamente descontaminados e reciclados.

O percurso de 73 equipamentos, distribuídos em 12 dos concelhos mais populosos da área de Lisboa e Porto, foi monitorizado em tempo real através de GPS instalados pelo Electrão em cada um dos aparelhos.

Sabia que…
…  são produzidas anualmente em todo o mundo, cerca de 54 milhões de toneladas destes resíduos, e que na Europa apenas 17% destes equipamentos são corretamente reciclados?

O Electrão optou por seguir o rasto das tipologias que são mais procuradas pelo mercado paralelo, dado o valor dos seus componentes, como é o caso de frigoríficos, torres de computadores, máquinas de lavar e fogões.

A monitorização revelou que a esmagadora maioria dos aparelhos colocados na via pública, para recolha por parte dos serviços municipais, é canalizada para o circuito informal, o que significa que os equipamentos são transformados em muitos casos em sucata metálica sem que seja acautelada a sua descontaminação.

Só 25% destes equipamentos teve como destino final um Operador de Tratamento de Resíduos, licenciado para descontaminar os aparelhos e recuperar os materiais reciclados – 75% integrou o mercado paralelo.

“A monitorização via GPS permitiu perceber que muitos equipamentos foram encaminhados para operadores que não estão capacitados para o tratamento de equipamentos elétricos e para portos marítimos, o que significa que alguns aparelhos acabam por ser exportados”, afirma o Electrão.

Desvio de equipamentos elétricos

Mais surpreendente ainda é que mesmo quando são entregues pelos cidadãos em ecocentros e em outros locais fixos das câmaras municipais, de acesso público, uma parte significativa (37%) destes equipamentos elétricos usados é desviada.

Destaca a Electrão que os gases de refrigeração associados aos equipamentos desviados nos canais municipais representaram, em 2020, cerca de 36 toneladas: “Este valor é o equivalente à circulação de 13.500 automóveis durante um ano em Portugal. Em alternativa seriam necessários 550 hectares de pinheiros para absorver o CO2 equivalente destes equipamentos durante um ano”, indica a gestora de resíduos.

Recolha abaixo de Espanha e França

A recolha nos canais municipais representa apenas 0,7 quilos por habitante ano, o que fica muito abaixo dos 4,4 registados em alguns países da União Europeia, como Espanha e França. “Para que Portugal pudesse cumprir a meta nacional teriam que ser recolhidos nos canais municipais 11,5 quilos por habitante ano”, salienta a entidade.

“O resultado deste projeto demonstra que urge privilegiar soluções para a recolha de equipamentos elétricos usados porta-a-porta”, diz Pedro Nazareth, da Electrão.

O Diretor-Geral do Electrão, Pedro Nazareth, sublinha que “o resultado deste projeto demonstra que urge privilegiar soluções para a recolha de equipamentos elétricos usados porta-a-porta, como o Electrão já está a fazer, no âmbito do um projeto piloto, em Lisboa, em complemento com a recolha municipal na via pública”.

O responsável do Electrão acredita que o projeto Weee-Follow pode ser uma boa ferramenta para ajudar a pôr fim a más práticas, como a de transformar estes equipamentos em sucata metálica sem acautelar a sua descontaminação: “Este projeto pode ajudar a aumentar o número e a qualidade dos equipamentos elétricos usados já que permite às autoridades ambientais a possibilidade de realizar ações coordenadas com vista penalizar as origens e os recetadores”, remata.

“Weee-follow” inspira projeto à escala nacional
Os resultados alcançados no âmbito do projecto “Weee-Follow” inspiraram um projeto que será dinamizado à escala nacional e alargado às restantes entidades gestoras de equipamentos elétricos.
A lógica do Weee-follow vai ser seguida na Campanha Nacional de Fiscalização de Resíduos de Equipamentos de Eléctricos e Electrónicos (REEE), que foi apresentada publicamente esta quarta-feira, e que se enquadra no Plano de Ação dos REEE, que decorrerá em articulação com a Agência Portuguesa do Ambiente, Direção-Geral das Atividades Económicas e entidades públicas competentes em matéria de inspeção e fiscalização no contexto de gestão de REEE.
O Electrão associou-se à comemoração do Dia Internacional dos Resíduos Eléctricos com uma instalação de 216 equipamentos eléctricos usados no jardim na Quinta dos Ingleses, em frente à Praia de Carcavelos. A instalação tem a forma da sigla SOS, pretendendo alertar para a questão da separação de equipamentos elétricos e do seu correto encaminhamento para reciclagem.
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