Calor e dias com mais horas de luz são dois ingredientes que justificam um fim de tarde numa esplanada, com vista para o mar, para saborear um refrescante cocktail. Podemos escolher um cocktail de frutos vermelhos, um mojito ou uma caipirinha, com gelo e uma palhinha, mas sempre com moderação.
Quem também nos acompanha num cocktail são todos os organismos marinhos que se encontram nessa massa de água mesmo à nossa frente. A diferença é que para eles, o cocktail é uma mistura de químicos e é servido sem opção de escolha. No bar marinho podemos encontrar desde metais pesados, hidrocarbonetos, dioxinas, pesticidas, fármacos, micro e nanoplásticos e um sem número de outras substâncias de origem antropogénica às quais vários organismos podem estar expostos diariamente e por longos períodos de tempo (quando falamos das substâncias persistentes).
São vários os fatores físico-químicos que modelam a biodisponibilidade destes contaminantes no meio aquático, mas é quando estes se tornam poluentes que a nossa preocupação aumenta.
Avaliação de risco ambiental
Quando falamos de poluição aquática, referimo-nos aos contaminantes biodisponíveis que causam um efeito negativo no biota. No entanto, é necessário que esses contaminantes estejam em concentrações suficientemente elevadas para poderem exercer um efeito tóxico. Como dizia Paracelsus (1493-1541), médico suíço e um dos pais da toxicologia, “A dose faz o veneno!”.
São por isso tão importantes, as metodologias de Avaliação de Risco Ambiental (ARA) que têm como principal objetivo estimar os níveis limite para poluentes, ou seja, valores de concentração/dose limite, que quando excedidas podem causar efeitos negativos (muitas vezes tóxicos) no biota.
Atualmente, organizações e agências nacionais e internacionais, como a Agência Portuguesa do Ambiente (APA), a Agência Europeia do Ambiente (AEA), a Autoridade Europeia de Segurança Alimentar (EFSA) e várias diretivas (ex: Diretiva Quadro Estratégia Marinha – DQEM) definem esses valores limite em matrizes ambientais (ex: ar, água, alimentos) e o risco associado à exposição a poluentes. Também os guias de avaliação de ecotoxicidade de diferentes substâncias e ainda, a regulamentação e introdução de novas substâncias no mercado, são definidos por organizações como a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento (OCDE) e a Agência Europeia de Químicos (ECHA), respetivamente.
A maioria destes valores limite e avaliação de risco estão definidos para as substâncias individuais, mas será este controlo suficiente e ecológica e ambientalmente realista?
Proteger o cocktail dos oceanos
Considerando que os ecossistemas aquáticos são dos sistemas ambientais que sofrem maior pressão antropogénica, através de descargas provenientes de inúmeras fontes de poluição, é expectável encontrar diversos poluentes com diferentes potenciais toxicológicos, que quando se encontram em misturas, promovem efeitos tóxicos aditivos, antagonistas ou sinergísticos no biota. Desta forma, a avaliação do risco toxicológico de misturas de poluentes, tendo por base os efeitos dos compostos individuais pode sub- ou sobrestimar o risco.
Assim, torna-se urgente o desenvolvimento de metodologias mais adequadas à realidade tendo em conta a exposição a misturas de poluentes, de forma a aumentar a relevância ecológica e ambiental no processo de ARA, para criar melhores bases para a decisão, implementação e avaliação de políticas ambientais na União Europeia e nos seus Estados Membros.
E não se esqueça que, se decidir tomar mais um cocktail, garanta que a palhinha é biodegradável e não de plástico! Tchim, tchim!
Foto de destaque de Marius Matuschzik
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