Os óleos alimentares após serem usados nas cozinhas tornam-se um resíduo com um elevado potencial de contaminação dos recursos hídricos.

Contudo, quando devidamente encaminhados, este género de óleos utilizados pela indústria alimentar podem tornar-se uma fonte mais amiga do ambiente para a produção de biodiesel, como, de resto, faz a Prio na sua refinaria situada no Porto de Aveiro, na Gafanha da Nazaré.

“O que estamos a fazer [na unidade de produção de Biodiesel da Prio, n.d.r.] é partir e recompor as moléculas para fazer com que um óleo, que, na prática, é bastante similar aos derivados ou aos produtos após processados do petróleo, seja transformado em algo que seja totalmente compatível para ser utilizado nos veículos que conduzimos no dia-a-dia”, explica Emanuel Proença, Administrador Executivo do Grupo Prio, que sublinha que este biodiesel “emite cerca de 85% menos CO2 do que o gasóleo convencional”.

300 toneladas de biodiesel

Por dia, em média, na fábrica da Prio em Aveiro, entram 300 toneladas de óleo alimentar usado e saem outras 300 toneladas de biodiesel (Prio Top Level) para abastecer os postos de combustível da empresa, os quais cumpren a Norma Europeia de Qualidade EN14214.

A capacidade anual desta refinaria da Prio é de 113.800 toneladas.

A fábrica foi construída em 2006 para a produção de biodiesel a partir de óleos vegetais virgens. Porém, tendo em conta as vantagens ambientais e económicas de biodiesel produzido a partir de resíduos, a empresa começou em 2013 a introduzir os óleos alimentares usados como matéria-prima, tendo usado, nesse primeiro ano, 8% deste resíduo. Quatro anos depois, a percentagem de uso de óleos alimentares usados era já de 70%.

A restante percentagem para a produção deste biocombustível é complementada com óleos vegetais virgens, como colza (no inverno) e soja (no verão). Óleo de palma não é usado pela Prio.

O biodiesel é um biocombustível obtido através da reação de transesterificação de triglicerídeos.

Cerca de 1.000 litros de óleos alimentares usados permitem produzir entre 920 litros e 980 litros de biodiesel, cujos índices de emissão de dióxido de carbono que podem chegar a menos de 80% dos do gasóleo, de acordo com a Quercus.

A qualidade do biodiesel que é fabricado é assegurada pelo laboratório existente na unidade fabril, de funcionamento 24 horas por dia, através dos testes de produto que efetua constantemente.

O grande potencial de recuperação do óleo alimentar usado faz com que possa ser aproveitado ainda para a produção de um subproduto – a glicerina – que pode ser usado para fazer sabões e velas.

“O que fazemos é agarrar no óleo alimentar depois de ter sido utilizado nas cozinhas e quando é já um resíduo e constitui um problema para o planeta porque vai poluir as águas”, enfatiza Emanuel Proença, da Prio.

Separação é fundamental

Atualmente, estão já a ser feitos mais testes a outros resíduos, como borras de café para aumentar a composição biológica dos combustíveis.

A associação ambientalista Quercus, salienta que é fundamental a separação e encaminhamento deste resíduo, “pelo que o esgoto nunca deve ser o destino a dar ao óleo alimentar usado”.

A Quercus acrescenta igualmente que por cada tonelada de óleos alimentares usados que não é encaminhada para aterro sanitário evita-se a emissão de cerca de 14 toneladas de gases com efeito de estufa (GEE) associada à biodegradação na ausência de oxigénio.

 Sabia que…
… um litro de óleo é suficiente para poluir cerca de um milhão de litros de água?

Nos casos em que não existe nenhum sistema de recolha (da câmara municipal, de uma entidade gestora de resíduos ou de uma superfície comercial), devem colocar-se os óleos alimentares usados no lixo indiferenciado, devidamente fechados numa garrafa de plástico, esclarece a Quercus.

Os ecologistas sintetizam o procedimento de separação e encaminhamento deste resíduo desta forma:

No caso da Prio, o óleo alimentar ou azeite depois de depositado no óleão da Prio, é recolhido pela Hardlevel, empresa especializada e certificada para o efeito com quem a Prio tem um acordo.

Após um pré-tratamento do óleo nas suas instalações, a Hardlevel transporta esta matéria-prima até à fábrica de biodiesel de Aveiro.

Embora haja outros processos de obtenção de biodiesel (como pirólise, micro-emulsificação e diluição), na refinaria da Prio o processo usado é através da reação de transesterificação de triglicerídeos.

A transesterificação consiste na reação dos triglicerídeos do óleo, seus constituintes
maioritários, com um álcool, na presença de um catalisador.

Percorridas várias etapas, o biodiesel obtido passa por filtros de bolsas (a utilização de óleos usados de origem vegetal, torna o processo mais delicado devido às impurezas provenientes do óleo), seguindo para os tanques diários onde são retiradas amostras e feitos os testes finais para atestar a qualidade do biodiesel.

O carburante é, então, armazenado noutros tanques até à sua saída nos camiões cisterna rumo aos cerca de 250 postos de abastecimentos da rede Prio, de onde chega aos automóveis de todos nós.

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